Já tentou alguma vez uma daquelas empreitadas em que tudo já está no lugar mas ainda assim se resolve mexer na arrumação, tipo, ajeitar de outra maneira, ver se dá mais espaço, guardar algumas coisas em lugares diferentes, encaixotar ou - pior - desencaixotar? É, sabe aquelas caixas cheias de coisas que sempre que tem que mexer é o caos? (E SEMPRE tem algo que a gente precisa ver/usar/consultar em uma das m... MELECAS de caixa!) Então um dia a gente toma coragem, abre a tampa e começa a tirar tudo de dentro, disposta a arrumar um lugar bem certinho, bem organizadinho, lógico e razoável pra colocar as coisas que saem lá de dentro.
O primeiro problema é que na hora que elas começam a sair, bom, elas NÃO PARAM de sair. A multiplicação dos pães & peixes que Jota Cê pulled off depois do Sermão da Montanha é fichinha comparado com o que acontece quando a gente começa a remexer nas tais caixas. O volume cúbico inicial se eleva à milionésima potência e a gente fica pensando se não acabou de abrir um buraco negro ao inverso ou um portal para outra dimensão de onde algum leprechaun ensandecido está enviando tudo aquilo que vê pela frente, menos - óbvio - o pote de ouro que a gente precisa tanto, thank you very much.
E lá vem, coisa após coisa. Algumas bem legais, que a gente nem lembrava mais que tinha, mas que fazem um sorriso pairar nos lábios quando surgem como coelhos da cartola de um mágico. Outras, igualmente esquecidas, a gente pensa que seria melhor se tivessem ficado assim mesmo, forgotten, perdidas no fundo ou num canto da caixa: são incômodas, desajeitadas, mal-vindas. Really and definitely unwanted. Mas fazer o quê? Depois que remexeu, tem que dar um jeito naquilo.
Esse é o segundo problema: fazer O QUÊ com aquela tralha toda? Pra algumas a gente já tinha a solução antes mesmo de começar, um lugarzinho reservado, uma prateleira ou gavetinha especial. Já tinha pensado e repensado, no problem. Pra outras a gente empurra daqui, rearranja de lá e após alguns - às vezes muitos - suspiros dá-se um jeito (jogo de cintura é comigo mesmo, baby). Mas e os elefantes brancos? Os skeletons in the closet? Aqueles trecos, troços, tralhas que a gente insiste em guardar, em conservar por perto e que por um daqueles mistérios inexplicáveis do universo - cara, esse X-Files nem o Mulder resolve! - a gente NÃO CONSEGUE jogar fora? A razão e o bom-senso mandam a gente se livrar daquilo, mas o cérebro perde lugar na chain of command pra sei lá eu que orgão e acaba por nos fornecer as desculpas mais esfarrapadas possíveis - das quais a mais comum é "Ah, vá que eu queira (ou precise. Ou os dois) disso depois..." - pra manter a porcaria lá. E então ela fica. Aliás, normalmente volta pra caixa, de preferência sem muito manuseio que é pra não causar mais problema do que já causou ao sair. Volta e fica lá, esperando até a próxima arrumação, e a gente se engana, se "autoconvence a si mesma" no final de que arrumou tudo, de que tudo está, agora sim, onde deveria estar. Everything dealt with. Tudo arrumadinho.
E a gente suspira, olha feliz ao redor, sentindo como se tivesse recém começado uma vida nova só porque remexeu em tudo, trocou umas coisas de lugar - até abriu uns espaços, vejam só! - e deixou a casa com cara de nova. Mas as caixas, putz, as caixas ainda estão lá, e dentro delas as tralhas ainda esperam como Gremlins malvados por uma chance de sair e bagunçar tudo de novo. Mas até a próxima arrumação a gente está salva.
Este post surgiu de uma re-arrumação (literal) que fiz no meu apartamento, sem intenção nem pretensão alguma de ser uma metáfora, mas... de repente... ;)
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