Saturday, March 22, 2008

Coming to my senses


Anos atrás - by the way, muuuuitos anos atrás... - li o livro O Perfume, de Patrick Süskind (sim, virou filme, mas nem me dei ao trabalho de ver porque sabia que NÃO TEM JEITO de um filme fazer o que esse livro faz quando se lê). Foi uma experiência nova em termos de leitura, pois até então descrições para mim estavam ligadas ao visual. Conforme o texto onde elas apareciam, eu via os cenários, personagens, a trama enfim. Mas com O Perfume Patrick Süskind conseguiu despertar em mim uma sensação nova, além da "visual": eu conseguia identificar cheiros.

Eu não chegava a sentir os cheiros, mas a descrição deles era tão perfeita que muitas vezes, lendo, eu dava aquele sorrisinho cúmplice do tipo "Yeah... I know what you mean...". Eu já havia sentido aquele cheiro antes, in real life, e tê-lo como integrante do cenário, quase como um personagem coadjuvante da cena, e poder reconhecê-lo, foi demais. Nunca esqueci aquele livro, pois me levou a um novo sentido através da leitura.

Ontem, então, fui lembrada de outro autor que também faz isso, só que com o GOSTO das coisas: Ernest Hemingway. Assistindo Cidade dos Anjos no Warner Channel, Nicolas Cage lê este trecho de Paris é uma festa (A Moveable Feast, no original) para Meg Ryan (e prometo não comentar nem sobre o filme nem sobre esses dois, apesar de estar ME MORDENDO para fazê-lo):

"As I ate the oysters with their strong taste of the sea...and their faint metallic taste... and I drank their cold liquid from each shell... and washed it down with the crisp taste of the wine...I lost the empty feeling...and began to be happy."

(Não é tão preciso quanto o Süskind, mas ainda assim é muito bom.)

Mais adiante, no filme, Cage pede a Meg Ryan que descreva o gosto de uma pêra (Ha! Eu conferi: tem acento, sim! Manual de redação da PUC/RS) e ela declama esta preciosidade (kuddos para o roteirista que escreveu!):

"Sweet... juicy.
Soft on your tongue.
Grainy... like sugary sand that dissolves in your mouth."

Era isso: a descrição perfeita. Eram as pêras da casa da minha avó (as mesmas que nunca mais alguém vai comer porque a praga de empresa que alugou o casarão CUT DOWN THE TREES! :S ). Eram as pêras que eu e a Sílvia (minha melhor amiga/quase irmã) colhíamos na minha casa do Laranjal (hoje já vendida, e nem sei se as pessoas mantiveram as árvores lá. Acho que não.) e jogávamos para cima da figueira centenária da esquina, onde os guris da nossa turma estavam empoleirados numa tree house que eles mesmos tinham construído. Eram as pêras que até hoje só eu compro (nem minha mãe, meu pai ou meu irmão o fazem) para sentir esse exato gosto e então, de alguma forma, transported by the senses, win over space and time, and once more live all these precious moments again.

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