Thursday, October 16, 2008

Mythologies

Conheci uma pessoa muito interessante no MySpace esta semana, e uma coisa que ele me contou a respeito dele mesmo me lembrou de um interesse que eu sempre tive: mitologia.

Nunca foi um interesse tipo PAIXÃO, daqueles sistemáticos, que a gente fica correndo atrás, pesquisando enlouquecidamente, mas daqueles que sempre que caía alguma coisa na mão, eu lia sobre. Não importava muito mitologia de ONDE: gregos, romanos, egícios, incas, maias, astecas, indianos, indígenas ou, mais recentemente, celtas, eu lia - e leio.

Os deuses e deusas dessas culturas, os arquétipos que eles(as) representam, a simbologia por trás de cada um(a), a história de suas vidas, sempre me fascinaram e, claro, dentro de cada mitologia sempre tive minhas preferências...

Por exemplo, na mitologia grega, apesar de eu ser assumidamente romântica, nunca fui muito fã da Afrodite (ou Vênus, pros romanos). Achava muito "bobinha". Eu gostava mesmo era da Diana (Ártemis, idem): caçadora, geniosa (transformou em um cervo um caçador que a viu nua durante o banho). Era ela ou a Athena (deusa da ordem, da justiça, da sabedoria, das artes e da estratégia). Acho que escolhi as duas porque tinham mais a ver com o meu jeito de ser e com meus interesses.

Dos egípcios, eu sempre fui apaixonada pela Ísis, ainda mais depois que passou um seriado na TV onde a heroína colocava um colar com um medalhão que ela tinha encontrado numa escavação no Egito e se tranformava na própria deusa, com poderes sobre a natureza e tudo. A história dessa deusa que depois que o marido Osiris foi assassinado saiu a reunir seus pedaços até juntá-los todos e reanimá-lo e cujas lágrimas faziam o rio Nilo transbordar, me encantou de cara. Já da cultura indiana, minha preferida era/é Kali, que, apesar das associações com destruição e morte, me conquistou por ser considerada por muitos a essência de tudo o que é realidade, bem como a destruidora da maldade.

Acho que o único deus "homem" que lembro de ter me chamado a atenção foi Inti, o deus sol dos Incas. Por quê? Bom, sempre gostei de sol (razão 1) e uma das primeiras fotos que vi de Macchu Picchu (lugar pelo qual sou fascinada desde que tinha uns 7 anos de idade e vi num livro) era do relógio de sol dedicado a ele (razão 2). Além disso, não era um deus "metido", era bonzinho e governava junto com sua esposa, Pachamama (deusa da Terra).

Por fim, em função das minhas pesuisas pro Mestrado e Doutorado, tive de fazer uma incursão pelas mitologias celta e nórdica e daí adicionei mais algumas deusas à minha lista (e sobre as quais talvez-quem sabe-algum dia-em outra oportinidade falarei). Mas a maior coincidência de todas foi que, também por causa do Mestrado, acabei conhecendo outro conceito de "mito", proposto por Roland Barthes.

Pra ele, um mito é uma mensagem, um modo de ver as coisas que é revestido de um uso social, ou seja, uma interpretação que é condicionada pela sociedade e pelas idéias que a sociedade considera como mais convenientes de serem perpetuadas. Por exemplo, se alguém vê uma foto de uma dona-de-casa, pode simplesmente "ler" aquilo como uma foto de uma mulher cuidando de sua casa, mas o mito é que (e pior: DITA que) AQUELE é o papel e a imagem da mulher ideal.

Quando às vezes me perguntam sobre o que é que eu falo nos meus trabalhos, é difícil explicar, mas uma das coisas são esses mitos muitas vezes naturalizados em textos e/ou imagens que eu me proponho a identificar, desmascarar e, se possível, desmistificar, e que muito freqüentemente (demais até pro meu gosto) estão ligados às mulheres.

Bom, depois de toda essa conversa toda, chego enfim (e para felicidade geral da nação) à conclusão deste post: adoro mitos "mitológicos", sou fascinada por eles. Panteões de deuses e deusas e suas histórias me encantam. Agora, não me venham com os mitos do Barthes, repetindo coisas de senso-comum tipo "lugar de mulher é na cozinha" ou "a beleza está em um rosto jovem" porque viro fera feito Diana, ataco com uma sabedoria de Athena, sou incansável feito a Ísis e posso ser implacável e destruidora feito Kali. Mitos, pra mim, podem até ter um pé na realidade (como no caso dos "mitológicos"), mas não podem, jamais, determinar ditatorialmente como as coisas devem ser, ainda mais se isso for contra aquilo em que acredito.

PS: Agradeço ao Leo da banda Zuane de SP pelo inpiração. Valeu, Leo! ;)

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